ISO 42001: quais seus benefícios para a gestão da inteligência artificial?

ISO 42001

A inteligência artificial (IA) deixou de ser uma promessa futurista para se tornar uma força motriz no mercado. E, para ajudar todas as empresas a usufruírem deste máximo potencial, a ISO 42001 é um apoiador estratégico no desenvolvimento deste sistema de gestão.

Por mais que esta já seja uma tecnologia amplamente difundida, seu constante crescimento e aprimoramento traz, consigo, desafios constantes quanto sua adoção eficaz nas organizações.

Uma pesquisa recente do MIT, como prova disso, trouxe um dado alarmante nesse sentido: 95% dos projetos de IA não estão atingindo o sucesso desejado. O grande problema gerador dessa falha não está no modelo tecnológico adotado em si, mas no planejamento estrutural para incorporá-la, assertivamente, em suas operações.

Estamos presenciando um enorme desencontro entre o que a IA pode contribuir nas organizações, no que diz respeito à automatização nas tomadas de decisões, maior análise de dados com base no aprendizado de máquina e um aumento natural da produtividade; e o quanto as empresas estão conseguindo atingir essas vantagens.

Mas, como é possível reduzir essa porcentagem? Com a ISO 42001, uma norma internacional destinada a fornecer as diretrizes para a implementação de controles aplicáveis que favoreçam a criação de um sistema de gestão de IA eficiente integrado à estrutura corporativa.

Seu objetivo é auxiliar todas as empresas que desenvolvem esse recurso internamente, abrangendo uma série de análises de riscos que precisam ser levados em consideração para que consigam ter uma sistemática eficaz visando essa implementação em seus processos.

Pode parecer burocrático, mas vamos descomplicar este assunto ao longo deste texto. Veja os tópicos que serão abordados:

    Boa leitura.

    O que é a Inteligência Artificial (IA)?

    A Inteligência Artificial é um campo da ciência da computação dedicado a criar sistemas capazes de executar tarefas que, de outra forma, exigiriam inteligência humana.

     

    Em sua essência, a IA busca simular e replicar diversas capacidades cognitivas humanas, aprendendo e melhorando esses comportamentos de forma que consiga, cada vez mais autonomamente, tomar decisões estratégicas e assertivas que tragam melhores resultados.

     

    Essa ampla gama de funcionalidades permite, na prática, que se expanda em um campo vasto com várias subdisciplinas possíveis de serem implementadas no mercado, sempre partindo da premissa de utilizar algoritmos sofisticados que aprendam com grandes volumes de dados para criar modelos preditivos ou de decisão constantemente melhores.

     

    Alguns dos campos mais comuns vistos, atualmente, no mercado, incluem:

     

    • Machine Learning: cujos algoritmos são desenvolvidos para identificar padrões e fazer previsões ou tomar decisões inteligentes;
    • Deep Learning: subcampo que utiliza redes neurais artificiais no intuito de que o sistema aprenda representações complexas de dados – sendo, hoje, a base de tecnologias como reconhecimento de voz, tradução automática e carros autônomos;
    • Processamento de Linguagem Natural (NLP): ramo da IA que permite que os computadores entendam, interpretem e gerem a linguagem humana, utilizado em assistentes virtuais, como Siri e Alexa, na análise de sentimentos em mídias sociais e na tradução automática;
    • Visão Computacional: permite que as máquinas “vejam” e interpretem imagens ou vídeos, de forma que consigam identificar objetos, reconhecer rostos e analisar o movimento. É a tecnologia por trás de sistemas de segurança, diagnóstico médico por imagem e reconhecimento facial em smartphones.

    O que é a ISO 42001?

    A ISO 42001 é uma norma internacional criada com o objetivo de auxiliar as empresas a criarem uma sistemática robusta para o desenvolvimento, implementação e aprimoramento contínuo de um sistema de gestão de Inteligência Artificial (SGIA).

     

    Seus critérios buscam definir os papéis e responsabilidades daqueles que irão desenvolver a IA nas empresas, assim como todos os cuidados a serem seguidos visando a máxima eficácia deste sistema de gestão.

     

    Isso porque a ISO 42001 determina que, para que este sistema seja devidamente integrado aos processos e à estrutura geral da organização, é importante considerar, neste processo, questões como gestão de potenciais riscos e oportunidades, diagnóstico da empresa, determinação dos objetivos organizacionais, e os controles necessários para sua utilização ética e responsável.

    Quem pode implementar a ISO 42001?

    A ISO 42001 ainda é uma norma recente no mercado que está sendo amplamente estudada. Mas, já é possível compreender que deve ser implementada por todas as empresas que desenvolvem uma IA internamente.

     

    Porém, o que vem sendo muito visto, nesse sentido, são empresas que buscam adotar essa norma apenas por incorporarem, em seus processos, uma tecnologia que tenha as características da inteligência artificial, algo que precisa ser melhor esclarecido.

    A maioria das tecnologias tradicionais é previsível. Elas funcionam com base em regras fixas. A IA, por outro lado, opera de forma dinâmica, aprendendo com os dados que processa de forma autônoma, sem ser explicitamente programada para cada cenário.

    O desenvolvimento dessas soluções envolve, naturalmente, uma série de riscos e cuidados inerentes em termos de segurança de dados, governança, responsabilidade profissional, ética e confiabilidade, os quais não competem, completamente, as empresas que apenas compram essas ferramentas.

    Por esses motivos que a ISO 42001 deva ser focada e implementada nas organizações que desenvolvam a inteligência artificial internamente, fornecendo o framework necessário para que a gerenciem de forma segura, tendo o suporte necessário para processos saudáveis e eficazes.

    Quais os benefícios da ISO 42001?

    Implementar a ISO 42001 traz uma série de benefícios para as empresas não apenas em questão de conformidade, visando a maior segurança dos dados, como, principalmente, para que este sistema de gestão de IA traga resultados cada vez melhores perante seu destaque contínuo.

     

    Veja os principais abaixo:

    Fortalecimento da reputação

    Em um mundo fortemente tecnológico, a segurança dos dados corporativos e pessoais é uma preocupação constante e obrigatória. Afinal, uma pesquisa recente da PwC mostrou que um terço das empresas brasileiras registraram perdas de, pelo menos, US$ 1 milhão em ataques cibernéticos nos últimos três anos.

     

    Mundialmente, o custo médio global das empresas com esses crimes chegou a US$3,32 milhões nesse mesmo período. Valores extremamente altos que podem ser reduzidos com a ISO 42001.

     

    Ao implementar essa norma, as empresas também reforçarão suas práticas de segurança dos ativos no desenvolvimento da IA, o que não só permitirá operações mais confiáveis e eficientes, como também melhorará sua reputação no mercado e confiança com os clientes.

     

    Isso, em um mercado extremamente competitivo, é um diferencial crucial para atrair novos parceiros de negócios e investidores.

    Mitigação de riscos

    A utilização irresponsável da IA pode levar a riscos significativos, especialmente, em falhas de segurança que podem comprometer dados e gerar grandes perdas financeiras.

     

    Mas, a ISO 42001 ajuda a empresa a identificar, avaliar e mitigar esses riscos de forma proativa. Ao seguir as diretrizes da norma, podem evitar multas regulatórias e muitos outros danos à sua reputação, compreendendo qual a melhor forma de agir em cada situação.

    Otimização dos processos

    A norma não determina, apenas, sobre o que deve ser feito na elaboração deste sistema de gestão, mas, acima de tudo, sobre como fazer isso. Ela promove a padronização e a otimização dos processos de desenvolvimento e gestão de IA, resultando em uma maior eficiência operacional.

     

    Ainda, ao definir os papéis, responsabilidades e procedimentos nesse sentido, auxilia a empresa a garantir que a IA seja desenvolvida e mantida de forma consistente e escalável, evitando retrabalho e desperdício de recursos, tornando sua gestão bem mais organizada e acessível.

    Maior vantagem competitiva

    Por fim, empresas que adotam a ISO 42001 se posicionam como líderes em inovação responsável. Isso porque a certificação pode ser um critério decisivo em licitações e parcerias de negócios, considerando que a ética da IA é uma preocupação central no mercado, atualmente.

     

    Dessa forma, ao mostrar que a empresa está preparada para o futuro regulatório e disposta a ir além do básico, ela se destaca da concorrência, atraindo talentos e criando novas oportunidades de negócio.

    Empresas que já adotaram a ISO 42001

    Mesmo ainda sendo uma novidade no mercado, a melhor coisa para te ajudar a visualizar melhor, na prática, todos os ganhos destacados acima, é conhecendo cases de empresas que já adotaram essa norma e vislumbram essas vantagens.

     

    Veja alguns exemplos a seguir:

    Samsung

    A inteligência artificial vem sendo amplamente incorporada em diversos produtos da Samsung há muitos anos, especialmente nos dispositivos compatíveis com o SmartThings, ecossistema de casa inteligente da marca sul-coreana compatível com geladeiras, ares-condicionados, lavadoras e secadoras de roupas, e muito mais.

     

    Essa tecnologia permite que a empresa, além de automatizar seus processos com base nas necessidades individuais de cada usuário, consiga identificar, antecipadamente, atualizações necessárias, para que mantenha sua operação com máxima eficácia.

     

    Esses cuidados contribuíram não apenas para que a IA fosse utilizada de forma segura, como também que cumprisse com os princípios éticos dessa tecnologia na Coréia do Sul, os quais incluem a aplicação de protocolos de segurança e criptografia para armazenar informações pessoais.

     

    Todos esses direcionados foram o que lhe conferiu a certificação da ISO 42001.

    Amazon

    Desde o início, a Amazon Web Services (AWS) prioriza o uso responsável da inteligência artificial em suas estratégias de inovação, desenvolvendo metodologias rigorosas que auxiliem neste desenvolvimento seguro, com máxima transparência e governança.

     

    Seu objetivo é contribuir e aprimorar os padrões de IA em diversas áreas críticas de seus produtos, incluindo gestão de riscos, qualidade de dados, mitigação de vieses indesejados e explicabilidade.

     

    Esse direcionamento lhe conferiu a certificação da norma, especialmente, graças aos seus serviços do Amazon Bedrock , Amazon Q Business , Amazon Textract e Amazon Transcribe.

    Arlequim

    Na América Latina, a Arlequim Technologies foi a primeira empresa de sua área a obter a certificação desta norma.

     

    A conquista se deveu, principalmente, ao desenvolvimento de processos e políticas voltadas ao uso ético e seguro da IA, junto a aplicação de um mapeamento de riscos envolvendo a utilização da ferramenta e a estruturação de um Comitê interno para tomada de ações relacionadas ao uso dessa tecnologia.

    Como implementar a ISO 42001 com eficácia?

    A implementação da ISO 42001 é um passo estratégico para qualquer empresa que desenvolva tecnologias à base da inteligência artificial, garantindo a segurança e a ética dos dados.

     

    Pensando nisso, confira abaixo dicas essenciais para operacionalizar essa norma com eficácia:

    Defina os papéis e responsabilidades

    Extrair o máximo potencial de uma IA não é tão simples como muitos imaginam. Não é algo que um simples prompt “padrão” online pode resolver.

     

    A norma exige, em um de seus capítulos, que as empresas definam os papéis e responsabilidades de todos que irão manusear essa tecnologia, sendo capacitadas e preparadas para que saibam usá-la com inteligência.

     

    Todos os profissionais devem passar por treinamentos sobre a política de IA da empresa, os riscos e as suas responsabilidades individuais, de forma que entendam seus deveres e como comandá-la sem prejuízos à confidencialidade das informações nela contidas.

    Análise de riscos da IA

    A análise de riscos é o coração da ISO 42001. É o processo contínuo de identificar, avaliar e tratar os riscos associados aos sistemas de IA, conforme as estratégias e objetivos que desejam alcançar.

     

    Isso, na prática, vai muito além de falhas técnicas. Considere riscos de vieses nos dados, discriminação algorítmica, impactos sociais, danos à privacidade, falhas de segurança e danos à reputação da marca.

     

    Para cada um identificado, determine a probabilidade de ele ocorrer, o potencial impacto e o plano de ação ideal para mitigá-lo à tempo.

    Análise de tendências da IA

    Uma tecnologia que, hoje, pode estar em alta no mercado, amanhã pode perder espaço para outra ainda mais sofisticada. Nesta era de transformação digital, a inteligência artificial evolui constantemente, o que exige das empresas que sigam esse ritmo.

     

    A norma reforça a importância do mapeamento constante acerca de novas e futuras tendências do mercado, de forma que as organizações não só se mantenham atualizadas, mas consigam se antecipar a possíveis demandas de seus consumidores.

     

    O mesmo vale para novas tecnologias de segurança de IA, como ferramentas de detecção de viés automatizadas e novas metodologias para melhorar a resiliência e a governança dos sistemas.

    Operações

    Não adianta ter ideias brilhantes de como utilizar a IA para elevar os resultados, sem que saiba como colocá-la em prática nesse sentido.

     

    Tenha um planejamento muito bem estruturado que oriente essa operacionalização, considerando todas as dificuldades que podem surgir ao longo deste processo, como irão controlar seu desempenho e mensurar o que está sendo conquistado.

     

    Isso inclui, também, controles de acesso rigorosos, criptografia de dados e backups regulares que reforcem essa proteção.

     

    Estabeleça uma rotina de auditorias internas para verificar se os procedimentos estão sendo seguidos corretamente. Isso ajudará a identificar falhas e pontos de melhoria antes de uma auditoria de certificação.

    Métricas e indicadores de IA

    Para evitar o investimento em uma ferramenta ou estratégia que não esteja trazendo os resultados esperados, não deixe de utilizar métricas específicas de IA que ajudem a avaliar a eficácia de seu desempenho, de acordo com as metas esperadas.

     

    Isso contribuirá para que atestem essas conquistas ou, se necessário, ajustem a rota, mitigando riscos de perdas de tempo ou dinheiro.

    Tenha o apoio de uma consultoria especializada

    O processo de implementação da ISO 42001 pode ser complexo, diante de tantos cuidados que precisam ser seguidos. Por isso, contar com o apoio de uma consultoria especializada pode favorecer esse sucesso e evitar erros que prejudiquem as operações.

     

    Isso porque esse time conseguirá realizar uma análise de lacunas para identificar o que sua empresa precisa fazer para se alinhar aos requisitos da norma, guiando na elaboração e execução deste planejamento.

     

    Sua visão externa e imparcial é extremamente valiosa para orientar nos melhores caminhos a serem seguidos. E, se a sua empresa está em busca deste parceiro para auxiliá-la, pode contar com a PALAS!

     

    Somos pioneiros na ISO de inovação, uma metodologia de gestão de inovação testada e aprovada por mais de 164 países e que, inclusive, contou com nossa participação em sua elaboração.

     

    Sua implementação traz diversos benefícios para empresas de todos os portes e segmentos, incluindo o aumento de valor da marca, criação de novos produtos e serviços, reconhecimento nacional e internacional e restituição fiscal com a Lei do Bem.

     

    Nosso propósito é preparar as companhias para o futuro ao unir criatividade, processos e metodologias ágeis e flexíveis às necessidades de cada empreendimento. Venha saber mais sobre como podemos levar a inovação ao seu negócio em nosso site.

    Conclusão

    Muitos estudos ainda estão sendo conduzidos sobre a ISO 42001, os quais são essenciais para assegurar o desenvolvimento de uma norma que auxilie as empresas desenvolvedoras de IA a garantirem a segurança de seus dados e como utilizá-los corretamente em um sistema de gestão robusto.

     

    Afinal, muito além de construir uma solução moderna, meramente, por ser uma tendência do mercado, as organizações devem ter senso crítico em cada passo tomado nesse sentido, de forma que saibam como interpretar e desenvolver essas ações em conformidade legal.

     

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    alexandre

    Mestre em engenharia e gestão da inovação pela Universidade Federal do ABC, engenheiro mecânico e bacharel em física nuclear aplicada pela USP. Passou por empresas nacionais e multinacionais, sendo responsável por áreas de improvement, projetos e de gestão. É certificado na metodologia Six Sigma - Black Belt, PMBoK e Scrum Master. Especialista e auditor líder em sistemas de gestão de normas ISO. É membro de grupos de estudos da ABNT, incluindo riscos, qualidade,  ambiental, compliance, saúde ocupacional e inovação. Formado em pós-MBA em inovação e Master em 4ª Revolução Industrial & Emerging Technologies, é sócio-fundador da PALAS, e um dos únicos brasileiros que participou do processo de formatação da ISO de Inovação.